No começo do semestre passado, foi pedido pesquisa de
repertório para a elaboração do projeto arquitetônico de um novo MIS. Os
professores selecionaram algumas obras e sortearam entre as equipes.
Meu grupo ficou com o Paço das Artes, localizado na cidade universitária
- USP.
O Paço é um local aonde alguns alunos, ex- alunos de artes
da USP e convidados expõem mostras de arte contemporânea.
O processo da pesquisa incluiu a visita ao local e achamos
o local um tanto obscuro, meio abandonado, e por mais que o grupo buscasse
informações sobre esse projeto, não encontrávamos nada. Pedimos para a
administração do Paço nos enviar algum material, mas nem eles sabiam quem era o
autor do projeto.
A responsabilidade do local fica sendo jogada de um lado para
o outro entre a Secretaria da Cultura de SP e a Administração da USP, além
de existir uma briga pelo terreno entre
USP e o Instituto Butantã.
Por fim, descobrimos que o Paço das Artes é uma obra
inacabada de Jorge Wilheim.
Alguns dizem que o projeto teria até 70 mil metros
quadrados, outros dizem 25 mil metros construídos que seria de acordo com a
Revista Projeto edição 335 “Uma área edificada maior que a do Memorial da
América Latina, o novo espaço deve se transformar na mais importante oficina
cultural do estado”. Hoje tem construído pouco mais de 4 mil metros quadrados e
é conhecido por muitos como o "esqueleto" da USP.
Centro Cultural |
Centro Cultural |
Mesmo com poucas informações sobre o projeto, fiquei curiosa sobre o Srº Wilheim, triste ao saber que ele havia falecido a pouco
menos de 1 mês e indignada por nunca ter ouvido falar dele , talvez por
ignorância minha, mas as vezes todo mundo coloca no pedestal arquitetônico nacional
alguns, que falta uma certa atenção a arquitetos como Wilheim que é
responsável por grandes obras dos cartões
postais de São Paulo como o novo vale do Anhangabaú.
Jorge Wilheim nasce em 1928 em Trieste, Itália, e chega ao
Brasil em 1940, fugindo da Segunda Guerra Mundial. Formou-se pela Faculdade de Arquitetura
Mackenzie em 1952 e ao vencer um concurso, recém-formado, para a elaboração de
o projeto hospitalar da Santa Casa de Jaú, abre escritório próprio.
Em 1954 é convidado para projetar em Mato Groso do Sul o
projeto urbanístico da cidade de Angélica para 15 mil habitantes. Desde então
teve presença marcante em diversos projetos urbanísticos, como o anteprojeto de
plano diretor de Brasília e com essa experiência realizando diversos planos
diretores para cidades em desenvolvimento em todo o pais.
Em 1969 concebe e coordena o projeto do parque Anhembi, com
o Palácio das Convenções, um hotel e o pavilhão de exposições que teve suas
estruturas de treliças metálicas erguidas em 8 horas. Em 1981, associado a Rosa
Kliass e Jamil Kfouri, vence o concurso para a reurbanização do vale do
Anhangabaú, construído e inaugurado dez anos mais tarde, e que revela aspectos
da reflexão urbanística de Wilheim, como a valorização da vida a pé e da rua
como uma grande praça de vida cívica, espaços abertos e públicos.
Vale do Anhangabaú |
Vale do Anhangabaú |
Essa reflexão também pode ser notada na proposta que fez
para a Nova Augusta em 1973, aonde propõe o bloqueia da circulação de automóveis em um
longo trecho da via, construindo praças escalonadas com degraus, jardineiras e
um mobiliário urbano variado.
Jorge Wilheim é considerado um dos principais urbanistas
brasileiros e teve forte atuação politica como defensor do chamado “planejamento
estratégico”. Foi titular da Sempla (Secretaria Municipal de Planejamento) de
1983 a 1986 elaborando o plano diretor de São Paulo de 1984. Secretario
Estadual do Meio Ambiente de 1987 a 1991 e na gestão seguinte de 1991 a 1994 se
torna presidente da Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo,
a tão conhecida Emplasa, da onde surgiram grande projetos pioneiros e teve sua
participação nos 31 Planos Estratégicos das Sub-Prefeituras de São Paulo.
Com toda essa bagagem urbanística em 1994 é convidado pela
ONU para trabalhar em Nairóbi-Quênia no cargo de Secretario geral adjunto da
Conferencia Mundial de Habitat 2, realizada em 1996 em Istambul-Turquia
Seus trabalhos mais recentes contam com consultoria para as
obras das Olimpíadas Rio 2016, os estudos urbanísticos para as estações do TAV
- Trem de Alta Velocidade, coordenação geral na elaboração da Operação Urbana
Rio Verde-Jacu e tantas outras novas OP em
São Paulo.
Na arquitetura podemos encontrar sua marca no Hospital Albert Einstein, SESI
Vila Leopoldina e em breve na nova Casa da Orquestra em Belo Horizonte entre
outros.
Autor de mais de 10 livros sua obra mais recente é São
Paulo: uma interpretação (Editora SENAC) que em breve pretendo ler.
Creio que posso resumir Jorge Wilheim brevemente como um
homem que trabalhou, e muito bem, em busca de uma vida urbana melhor para todos.
Todas ideologias vista em minhas aulas de urbanismo foram praticadas por ele
por toda a sua vida e por todos os lugares que passou. Acredito que ele tenha
passado tudo isso para a equipe que o acompanhou e para a equipe que ira
continuar os seu trabalhos pois espero ver esse grande Arquiteto e Urbanista
dono de um sorriso cativante (que muito me lembrou meu querido vó) eternizado
em suas obras com orgulho e admiração que carrego e terei para sempre como
exemplo.
Imagens: Internet e fontes.